
São várias as tecnologias e soluções executadas na bacia do rio Doce pela Fundação Renova e suas parceiras que contribuem para a recuperação ambiental e para a criação de condições favoráveis à biodiversidade dos cursos d’água. O rio Doce vem respondendo às ações e está se recuperando dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).
É o que mostra estudo do professor Dr. Carlos Tucci, especialista em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, que analisou as características hidrossedimentológicas (erosão hídrica, dos sedimentos fluviais e dos depósitos em rios e reservatórios) do trecho da bacia do rio Doce atingido pelo rompimento.
As análises indicam que atualmente no trecho entre a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) até a foz, no Espírito Santo, os dados referentes ao transporte de sedimentos do rio Doce já se aproximam dos índices históricos. Estes índices são medidos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em sua rede hidrometeorológica, com dados de antes do rompimento. A comparação evidencia uma clara recuperação trecho afetado.
A pesquisa indica que, ao final dos 10 anos simulados, grande parte dos rejeitos tendem a se consolidar ao longo do tempo a partir das ações da reparação da Fundação Renova, de crescimento da vegetação local e da estabilização do fundo dos rios afetados, com a formação da camada mais grosseira (areia, cascalho etc) dos sedimentos naturais.
Resultados
Os primeiros resultados do trabalho apontam que até o ano de 2019 houve uma redução de 34% no volume de rejeitos depositado no leito do rio após o rompimento, o que significa uma tendência de retorno aos padrões registrados no período anterior ao rompimento.
Os pesquisadores fizeram uma projeção das condições do rio Doce ao longo de 10 anos, a partir de 2020, utilizando um software especializado. Os dados coletados foram aplicados a uma técnica chamada “modelagem numérica”, na qual os pesquisadores simulam as características do meio ambiente, do curso d’água e da interação do sedimento natural com o rejeito ao longo dos anos nas porções atingidas pelo desastre da barragem de Fundão.
O estudo mostrou que, em 2019, dos 23,4 milhões de m³ de rejeitos retidos ao longo dos rios impactados pela passagem da pluma de rejeitos, restavam 15,3 milhões de m³, o que representou uma redução de 34,6%. Com base na projeção de 10 anos a partir de 2020, feita pelo simulador, estima-se que, até 2030, essa redução poderá chegar a 61,1%, ou seja, o rio deverá ter cerca de 9 milhões de m³ de rejeitos.
Etapas
O estudo do professor Tucci foi dividido em três etapas, sendo que as duas primeiras já foram concluídas. Foram os resultados dessas duas etapas que apontaram para os indícios de recuperação dos cursos d’água impactados.
A terceira e última fase está em desenvolvimento e tem como objetivo responder questões como:
Qual é o tempo de recuperação esperado para que as concentrações de sedimentos em locais críticos retornem aos níveis naturais?
· O comportamento da turbidez das águas dos rios é determinado primordialmente pelo rompimento da barragem ou por condições naturais das bacias hidrográficas contribuintes?
· É possível diferenciar a dispersão natural de sedimento do rio da dispersão do material que foi originado do rompimento?

Redução
A maior redução no volume de rejeitos foi verificada abaixo da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (conhecida como Candonga). Como o lago do reservatório de Candonga reteve cerca de 10 milhões de m³ de rejeito, notou-se que, abaixo de Candonga, a quantidade de rejeito que desceu o rio Doce até a foz foi consideravelmente menor e se misturou ao sedimento natural do rio.
Nesse trecho abaixo de Candonga, os índices e valores referentes aos sedimentos transportados tendem e, em alguns pontos, se aproximam dos índices históricos medidos pela rede hidrometeorológica da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) desde antes do rompimento. Isso evidencia uma clara recuperação do curso d’água, que tende a retornar às condições de transporte de sedimentos naturais que ocorriam naturalmente no rio, sem a presença do rejeito.
Já no trecho entre a barragem de Fundão, em Mariana, e a usina de Candonga, a presença de rejeito é maior, especificamente no rio Gualaxo do Norte. O pesquisador, contudo, vislumbra um horizonte para a recuperação completa do Gualaxo até 2035.
“Com base nas estatísticas de vazão e na simulação da recuperação do rio no modelo matemático e hidrossedimentológico, verificou-se que o trecho antes da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves tende a convergir para o cenário anterior ao do rompimento entre 2030 e 2040, com valor esperado em 2035.”
Carlos Tucci, especialista em Recursos Hídricos e Saneamento e professor aposentado do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Segundo o programa Manejo de Rejeitos da Fundação Renova, as ações de recuperação e alternativas de manejo que vêm sendo implantadas estão refletidas nos dados observados de descarga sólida e vazão líquida usados na calibração/validação dos parâmetros do modelo. O rio responde às diferentes técnicas usadas para conter o rejeito e estimular um processo natural de incorporação desse material no ambiente.