
A aplicação de técnicas de recuperação florestal e de produção agropecuária sustentável na região da bacia do rio Gualaxo do Norte, em Minas Gerais, impactada pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em 2015, pode movimentar mais de R$ 23 milhões por ano e remover 281 mil toneladas de gases de efeito estufa da atmosfera.
É o que mostra estudo lançado no início de junho e realizado por parceria entre a Fundação Renova, WRI Brasil, Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF Brasil) e Fazenda Ecológica.
O objetivo do estudo é investigar quais ações e estratégias serão mais adequadas para que a produção local seja mais sustentável e darão melhores condições para a retomada das atividades agropecuárias em propriedades localizadas na região mais atingida pelo rompimento, a exemplo das cidades de Mariana, Barra Longa, Ponte Nova, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado e regiões.
Parte das ações para alcançar este objetivo envolvem a implantação de Unidades Demonstrativas (UDs), onde foram desenvolvidas práticas de manejo sustentável da terra. Essas unidades, implantadas dentro de propriedades atingidas, servem de modelo para outros produtores. Até o junho de 2020 foram implantadas 16 UDs e outras 9 serão implantadas nos próximos passos do projeto.
A ideia é aumentar o valor econômico da atividade agropecuária, tradicional na região, com práticas sustentáveis e de baixa emissão de carbono, contribuindo para o aumento da renda com produtos madeireiros e não-madeireiros. Há ainda benefícios indiretos, como melhoria da qualidade da água, solo e clima. O retorno econômico para cada uma dessas intervenções foi estimado e varia de acordo com o arranjo produtivo.
O relatório utilizou a metodologia ROAM – sigla em inglês para Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração. A técnica é usada na identificação das melhores oportunidades de restauração em uma paisagem com a participação das comunidades, e já serviu de base para a elaboração de planos de restauração no Brasil e no mundo.
“Para subsidiar a tomada de decisão, ao longo do processo são construídos vários mapas com base em informações primárias e secundárias com o total envolvimento dos proprietários rurais da região, ribeirinhos do Gualaxo, Carmo e Piranga (Alto Rio Doce). Ou seja, o território ganha informações que subsidiam o planejamento territorial ou a visualização de oportunidades com análises e mapas biofísicos e socioeconômicos.”
Vitor Hermeto
Especialista do Programa de Uso Sustentável da Terra da Fundação Renova
Segundo Mariana Oliveira, analista de pesquisa do WRI Brasil, o estudo mostra que o sucesso da restauração depende de se conhecer as motivações da população e atender a suas expectativas e necessidades. “A promoção da restauração na escala da paisagem deve ser abraçada pelos governos municipais e lideranças locais. Além disso, deve buscar a valorização da produção local, o resgate do conhecimento popular e promover as trocas de conhecimento e o engajamento das comunidades”, diz.
O estudo da Fundação Renova e WRI Brasil foi realizado dentro do projeto Renovando Paisagem. Saiba mais sobre o projeto aqui.