
A Fundação Renova trabalha pelo fortalecimento e pela ampliação de cadeias produtivas e elos da economia local que foram impactados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Um exemplo desse trabalho é o projeto Catarse Coletiva, uma parceria da Renova com a Associação de Culturas Gerais (ACG) que reúne 175 artesãos e produtores agropecuários de 13 grupos de Mariana e Barra Longa (MG) e busca incentivar a construção de uma rede colaborativa de produtores pela abertura de novos mercados.
Uma das ações do projeto Catarse Coletiva, que traz a curadoria do estilista Ronaldo Fraga, é a coleção Minha Casa em Mim. A iniciativa une a gastronomia à tradição do artesanato manual, apresentando produtos que valorizam a história de Mariana e o universo de Minas Gerais, resgatando saberes e fazeres por meio da economia criativa e da produção associada local.
A ideia começou a ser elaborada em novembro de 2019, a partir de encontros do estilista Ronaldo Fraga com os artesãos e produtores em Mariana. Em janeiro deste ano o estilista, junto aos consultores Ana Vaz, Marcelo Maia e a equipe da ACG, realizou visitas nas sedes dos grupos com o objetivo de conhecer as necessidades de valorização dos produtos e as dificuldades de cada produtor. A partir destes encontros surgiu a coleção Minha Casa em Mim, que traz a releitura dos trabalhos com a colaboração e olhar do estilista.
Para o desenvolvimento da coleção, a sustentabilidade foi o caminho traçado por Ronaldo Fraga e pelos consultores que completam a equipe. Os materiais foram trazidos dos quintais das casas dos artesãos, como os bambus de Cláudio Manoel que se transformaram em pássaros, ou a folha da bananeira que se transformou na caixa para os doces do Coletivo de Camargos.
No trabalho realizado em parceria com a ACG, a Fundação Renova oferece cursos e orientações para aprimoramento da estrutura de trabalho, da qualidade dos produtos finais e o desenvolvimento dos negócios. Uma ação que visa apoiar o desenvolvimento da gestão empresarial e facilitar a inserção dos grupos no mercado.
Assista no vídeo alguns momentos registrados durante os encontros do estilista com os grupos do projeto:
Comercialização dos produtos
No site www.minhacasaemmim.com.br, criado para a coleção, são comercializados diversos produtos como o famoso prato de decoupage (colagem aplicada a pratos de vidro) de Mariana, os panos de prato bordados, o cuscuz produzido em Padre Viegas, os jogos americanos em formato de taioba, os sousplats de pedra-sabão de Mariana, o vinho de jabuticaba de Monsenhor Horta, as namoradeiras, o doce de mamão de Camargos, entre outros itens que resgatam saberes e fazeres mineiros.
Veja parte da coleção que está disponível para aquisição no site:
Um dos grupos que integra a coleção do projeto é a Cooperativa Rural Mista de Gesteira, do distrito de Gesteira, em Barra Longa (MG), local de pecuária leiteira e extensa produção caseira de doces e quitandas tradicionais. Composta majoritariamente por mulheres, na cooperativa trabalham 25 pessoas, sendo 24 mulheres e um homem, que atuam na produção de empadas, tortas e broas, rosquinhas, canudinhos e, em especial, o “doce mole”, um doce de leite feito em fogão à lenha. Tradição local, o doce é feito há décadas pelas mulheres de Gesteira.

“As mais novas não costumam fazer o doce mole. Isso é uma tradição que as mais antigas fazem. Fora isso, eu faço de tudo na cooperativa. Desde mais nova minha mãe me ensinava a fazer essas coisas. Na minha família, minha mãe e minha irmã mais velha também participam da cooperativa.”
Ana Eduarda Reis Inocêncio, doceira na Cooperativa Rural Mista de Gesteira
Com 19 anos, Ana é a doceira mais jovem da cooperativa. Para ela, o contato com Ronaldo Fraga foi interessante e enriquecedor. Os produtos mudaram de embalagem, que passou a ser de vidro e fornecida pelo projeto. Com a disponibilização dos produtos no site da coleção, Ana espera que a produção da cooperativa ganhe mais repercussão.

Tradição mineira no São Paulo Fashion Week
A coleção Minha Casa em Mim foi apresentada ao país no dia 8 de novembro deste ano, durante o desfile de Ronaldo Fraga na São Paulo Fashion Week (SPFW). O estilista utilizou a simbologia da resiliência dos artesãos da região e a brasilidade do trabalho que desenvolvem para homenagear a também estilista mineira Zuzu Angel, que morreu em 1976, durante o regime militar. “Zuzu vive na força dessas mulheres e na força desse Brasil que resiste. E que resiste com seus saberes e fazeres tradicionais”, frisou o estilista em vídeo apresentado durante o desfile.
“São produtos que vão para além da moda. Temos produtos diversificados e produtos de designers, diferenciados. Colocamos o designer e o artesão juntos, pois acredito ser um papel do designer brasileiro criar pontes entre os diferentes brasis.”
Ronaldo Fraga, estilista e curador do projeto Catarse Coletiva
