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Estudo comprova recuperação de danos ao rio Doce causados pelo rompimento da barragem de Fundão



O rio Doce está se recuperando dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). É o que mostra um estudo realizado com apoio da Fundação Renova por Carlos Tucci, professor aposentado do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e proprietário da Rhama Consultoria Ambiental.


De acordo com a pesquisa, em alguns pontos afetados do rio, principalmente no trecho após a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), há uma tendência ao retorno aos padrões de presença de sedimentos naturais no rio que ocorriam antes do rompimento. A conclusão é que os valores de descarga de sedimentos tendem a se aproximar ou até já se aproximaram dos valores históricos medidos na região antes do desastre.



Conheça o estudo


Os primeiros resultados do trabalho apontam que houve uma redução de 34% no volume de rejeitos depositado no leito do rio após o rompimento, o que significa uma tendência de retorno aos padrões registrados no período anterior ao rompimento.


Os pesquisadores fizeram uma projeção das condições do rio Doce ao longo de 10 anos, a partir de 2020, utilizando um software especializado. Os dados coletados foram aplicados a uma técnica chamada “modelagem numérica”, na qual os pesquisadores simulam as características do meio ambiente, do curso d’água e da interação do sedimento natural com o rejeito ao longo dos anos nas porções atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.


O estudo mostrou que, em 2019, dos 23,4 milhões de m³ de rejeitos retidos ao longo dos rios impactados pela passagem da pluma de rejeitos, restavam 15,3 milhões de m³, o que representou uma redução de 34,6%. Com base na projeção de 10 anos a partir de 2020, feita pelo simulador, estima-se que, até 2030, essa redução deverá chegar a 61,1%, ou seja, o rio deverá ter cerca de 9 milhões de m³ de rejeitos.


A maior redução no volume de rejeitos foi verificada abaixo da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (conhecida como Candonga). Como o lago do reservatório de Candonga reteve cerca de 10 milhões de m³ de rejeito, notou-se que, abaixo de Candonga, a quantidade de rejeito que desceu o rio Doce até a foz foi consideravelmente menor (5,5 milhões de m³) e se misturou ao sedimento natural do rio.


Nesse trecho abaixo de Candonga, há uma tendência de retorno às condições de transporte de sedimentos naturais que ocorriam naturalmente no rio, sem a presença do rejeito. Isso significa que os índices e valores referentes aos sedimentos tendem, em alguns pontos, a se aproximam dos índices históricos medidos desde antes do rompimento. Isso evidencia uma clara recuperação do curso d’água.


Já no trecho entre a barragem de Fundão, em Mariana, e a usina de Candonga, a presença de rejeito puro é maior, especificamente no rio Gualaxo do Norte. O pesquisador, contudo, vislumbra um horizonte para a recuperação completa do Gualaxo – ou seja, 0% de rejeito presente na calha – até 2032.


No entanto, segundo o programa de Manejo de Rejeitos da Fundação Renova, essa previsão não considera as ações de recuperação e alternativas de manejo que vêm sendo implantadas. Dessa forma, em um cenário mais otimista, há possibilidade do retorno das condições naturais do rio Gualaxo do Norte em 2024, com 10% de rejeito presente na calha.


É importante ressaltar que, de acordo com os primeiros resultados desse estudo, mesmo ao final dos 10 anos simulados, ainda pode haver depósitos de rejeito. Porém, grande parte desse material tende a se consolidar ao longo do tempo, a partir das ações de reparação, crescimento da vegetação local e a estabilização do fundo dos rios (através da formação da camada de areia e cascalho com sedimentos naturais).




Etapas


O estudo do professor Tucci foi dividido em três etapas, sendo que as duas primeiras já foram concluídas. Foram os resultados dessas duas etapas que apontaram para os indícios de recuperação dos cursos d’água impactados.


A terceira e última fase está em desenvolvimento e tem como objetivo responder questões como:

  • Qual é o tempo de recuperação esperado para que as concentrações de sedimentos em locais críticos retornem aos níveis naturais?

  • O comportamento da turbidez das águas dos rios é determinado primordialmente pelas causas do acidente ou por condições naturais das bacias hidrográficas contribuintes?

  • É possível diferenciar a dispersão natural de sedimento do rio da dispersão do material que foi originado do acidente?


Carlos Tucci é professor titular aposentado do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS) e atualmente atua como professor colaborador do curso de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do IPH-UFRGS, além de ser proprietário e diretor da empresa Rhama Consultoria Ambiental Ltda. Atua em pesquisas relacionadas a águas urbanas, modelagem de sistemas hídricos, gestão de recursos hídricos, previsão e alerta de sistemas hídricos, gestão de água e meio ambiente. Também atua, há 35 anos, como consultor junto a empresas e entidades nacionais e internacionais, como Unesco, Banco Mundial, BID, ANEEL, ANA, Itaipu, entre outros. É autor de mais de 300 artigos científicos e livros.

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